sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lenda da Cabeça da Velha



Lenda da Cabeça da Velha

Era uma vez...
No norte português.
Plena serra da Peneda Gerês.
Onde ao longe se via
Terras de Galiza.
Que vivia uma jovem flor.
Dona de uma rara beleza
E fartos haveres.
De nome Leonor.

Vivia com seu tio D.Bernardo.
Também ele senhor abastado.
Até mesmo, na estima que tinha
Pela sua sobrinha.

De tal forma que a via,
Num desejo egoista.
A ficar a seu lado,
Até que a sua vista,
Se fecha-se para sempre, num longinquo dia.

Mas este seu céu,
Tinha uma nuvem.
Um inocente réu.
Chamado amor.
Um jovem.
Primo de Leonor.
Inteligente e belo.
Com nobre solar na região.
Havia-lhe roubado o coração.

Namoravam escondidos.
Sem alaridos.
Pois eram conhecedores,
Dos perigos e dissabores,
A que esta relação levaria.
Fosse D.Bernardo sabedor,
Deste amor comovedor.

A ajudar o casal,
Estava a velha serviçal,
Do tio egoista.
Marta.
Havia criado,
Leonor desde  pequenina.
E desde menina,
Leonor, tinha nela encontrado,
Uma fiel confidente.
Sempre presente.

Era um prazer para Marta ver,
O amor que os unia.
Tanto como o medo de Leonor.
Não fosse Marta um dia,
Deixar escapar um promenor
Ao seu amo e senhor.
Certa estava de que os três puniria.
Sentindo desconfiança na sua lealdade,
Marta disse indignada:
“Se alguma vez a trair.
Mesmo que obrigada.
Prefiro cair!
Sem piedade!
Amaldiçoada!
E transformar-me numa pedra!
Como essa do cabeço fria e rude."

Um dia D.Afonso esperou Marta,
Num recanto escondido.
E entregou-lhe uma carta,
Derigida a Leonor.
Que ele tinha redigido.
Onde lhe pedia com fervor,
Que com ele fugi-se.
Iriam para seu solar.
Para na sua capela casar.
Sem que nada os impedisse.

Marta regressou a casa.
Mas não chegou sem que antes,
O seu amo lhe sai-se ao caminho.
E vi-se duas coisas preocupantes.
A carta que ela trazia na asa.
E o quão longe ela estava do ninho.
D.Bernardo, que havia saido para caçar.
Havia ali caçado,
Mais do que ele estava a pensar.
Marta resistiu.
Mas de nada serviu.
D.Bernardo tirou-lhe a carta.
E logo de seguida leu-a.
Espantou-se!
Com o amor que ignorava.
Calado voltou-se.
Pegou na carta e devolveu-a.
Supresa com a atitude que não esperava.
Correu para a entregar a Leonor.
Preferindo guardar,
O que lhe acontecera e apoquentava.
Esperando entre o medo e a dor,
Que D.Bernardo nada fize-se.

Na noite combinada,
Por uma capa escondida.
E com um olhar humido de saudade,
Que não escondia sentir.
Procurou os braços do seu amor, que a aguardava,
Para cair.

Por entre as sombras da noite,
A sua propria sombra, era perseguida de longe.
E no solar, Marta procurava
Nas sombras encontrar, o que para Leonor foge.
Era a morte!
A morte de um sonho!
Seu tio havia armado-lhes uma armadilha.
Marta correu!
Correu, como quem foge do mal.
E conseguiu avisar o casal.
E o sonho sobreviveu!
A cada galopar do cavalo.

Num pequeno intervalo,
Para tràs olharam.
Tentando agradecer a Marta a sua lealdade.
Que lhes salvara a felecidade.
Porém...
Não foram além,
De ver a rijeza,
De uma pedra em que se esculpia...
Uma face rugosa.
Um nariz curvado.
Um queixo caido.
Uns olhos cegos,
Que os musgos,
Comessavam a cobrir,
Macios e piedosos.

Era verdade!
A promessa de Marta tornara-se realidade.
A velha criada transformara-se
Em pedra rija e fria.
Que parecia estar a despedir-se
Do casal que desaparecia
Cada vez mais... e mais... e mais.

Poema elaborado com base na lenda contada pelo escritor "Antonio Manuel Couto" em 2002

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