segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Perdido ao sol



Perdido ao sol

Sento-me ao sol quente.
Aguço o dente.
E escrevo:

“Aquilo que sirvo
Não me serve.
Ferverà...
Na alma escaldada
De quem o leve.

Jà o tive
Onde, ter se deve.
E não mais estarà.

Agora foge!
Vai ferver longe.
Deixa-me cà!”

Rapariga



Rapariga

Rapariga…
Ha algo em ti que me intriga.
Não sei o que é esta formiga,
Que pica e faz comichão.
Que para so quando para,
Por tudo ter razão.

Dou voltas e mais voltas,
Tentando vê-las mortas.
A todas é-me impossivel.
É-me de todo impensàvel.
Quando mais voltas dou,
Mais picado sou.

Tu rapariga...
Para mim és intriga.
És formigueiro.
Não és verdade por inteiro.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lenda da Cabeça da Velha



Lenda da Cabeça da Velha

Era uma vez...
No norte português.
Plena serra da Peneda Gerês.
Onde ao longe se via
Terras de Galiza.
Que vivia uma jovem flor.
Dona de uma rara beleza
E fartos haveres.
De nome Leonor.

Vivia com seu tio D.Bernardo.
Também ele senhor abastado.
Até mesmo, na estima que tinha
Pela sua sobrinha.

De tal forma que a via,
Num desejo egoista.
A ficar a seu lado,
Até que a sua vista,
Se fecha-se para sempre, num longinquo dia.

Mas este seu céu,
Tinha uma nuvem.
Um inocente réu.
Chamado amor.
Um jovem.
Primo de Leonor.
Inteligente e belo.
Com nobre solar na região.
Havia-lhe roubado o coração.

Namoravam escondidos.
Sem alaridos.
Pois eram conhecedores,
Dos perigos e dissabores,
A que esta relação levaria.
Fosse D.Bernardo sabedor,
Deste amor comovedor.

A ajudar o casal,
Estava a velha serviçal,
Do tio egoista.
Marta.
Havia criado,
Leonor desde  pequenina.
E desde menina,
Leonor, tinha nela encontrado,
Uma fiel confidente.
Sempre presente.

Era um prazer para Marta ver,
O amor que os unia.
Tanto como o medo de Leonor.
Não fosse Marta um dia,
Deixar escapar um promenor
Ao seu amo e senhor.
Certa estava de que os três puniria.
Sentindo desconfiança na sua lealdade,
Marta disse indignada:
“Se alguma vez a trair.
Mesmo que obrigada.
Prefiro cair!
Sem piedade!
Amaldiçoada!
E transformar-me numa pedra!
Como essa do cabeço fria e rude."

Um dia D.Afonso esperou Marta,
Num recanto escondido.
E entregou-lhe uma carta,
Derigida a Leonor.
Que ele tinha redigido.
Onde lhe pedia com fervor,
Que com ele fugi-se.
Iriam para seu solar.
Para na sua capela casar.
Sem que nada os impedisse.

Marta regressou a casa.
Mas não chegou sem que antes,
O seu amo lhe sai-se ao caminho.
E vi-se duas coisas preocupantes.
A carta que ela trazia na asa.
E o quão longe ela estava do ninho.
D.Bernardo, que havia saido para caçar.
Havia ali caçado,
Mais do que ele estava a pensar.
Marta resistiu.
Mas de nada serviu.
D.Bernardo tirou-lhe a carta.
E logo de seguida leu-a.
Espantou-se!
Com o amor que ignorava.
Calado voltou-se.
Pegou na carta e devolveu-a.
Supresa com a atitude que não esperava.
Correu para a entregar a Leonor.
Preferindo guardar,
O que lhe acontecera e apoquentava.
Esperando entre o medo e a dor,
Que D.Bernardo nada fize-se.

Na noite combinada,
Por uma capa escondida.
E com um olhar humido de saudade,
Que não escondia sentir.
Procurou os braços do seu amor, que a aguardava,
Para cair.

Por entre as sombras da noite,
A sua propria sombra, era perseguida de longe.
E no solar, Marta procurava
Nas sombras encontrar, o que para Leonor foge.
Era a morte!
A morte de um sonho!
Seu tio havia armado-lhes uma armadilha.
Marta correu!
Correu, como quem foge do mal.
E conseguiu avisar o casal.
E o sonho sobreviveu!
A cada galopar do cavalo.

Num pequeno intervalo,
Para tràs olharam.
Tentando agradecer a Marta a sua lealdade.
Que lhes salvara a felecidade.
Porém...
Não foram além,
De ver a rijeza,
De uma pedra em que se esculpia...
Uma face rugosa.
Um nariz curvado.
Um queixo caido.
Uns olhos cegos,
Que os musgos,
Comessavam a cobrir,
Macios e piedosos.

Era verdade!
A promessa de Marta tornara-se realidade.
A velha criada transformara-se
Em pedra rija e fria.
Que parecia estar a despedir-se
Do casal que desaparecia
Cada vez mais... e mais... e mais.

Poema elaborado com base na lenda contada pelo escritor "Antonio Manuel Couto" em 2002

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fim de ciclo



Fim de ciclo

Estou onde não pertenço.
Porque ja pertenci.
Onde nada mais e denso.
Porque tudo venci.

Parado.
Vivendo...
Não vivo! Somente.
Quando, assim o passado,
Escreve o presente,
Matando o futuro.

Resta-me descobrir,
A distancia a percorrer.
Entre a morte que me esta a cobrir,
E a palavra viver.

Ir e ir.
Encontrar e sorrir.

Não voltar.
Nem esquecer.
Recordar!
A partir desse lugar longinquo e seguro.
Onde pertencer...
Significara, nunca mais andar.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O amor tem destas coisas



O amor tem destas coisas

O amor tem destas coisas…
Um abraço.
E um beijo.
Um desejo.
E um “faço”.
Uma partida.
E uma chegada.
Uma corrida.
E uma balada.
Uma mentira.
E uma dor suicida.
Uma verdade.
E um ar risonho.
Uma feira.
E uma sala sussegada.
Uma realidade.
E um sonho.
Um nos.
E um presente.
Um tempo feroz.
E uma alma valente.

O amor tem destas coisas...
Destas coisas de que precisas.
Bailarinas em salto-alto.
Que dançam como querem.
Sem dizerem,
Porque aparecem....
Sempre em sobressalto.
Como se não fossem elas acontecer.
Ou nòs desaparecer,
Sem que elas nos vissem.

O amor tem destas coisas...
Destas e muitas outras.
Que saem caras
Ou não.
Dependendo do coração,
Que lhes estende a mão.